Induzido
Esta noite tive um sonho escatológico.
Muitas pessoas sobreviviam a uma primeira onda de destruição mas o planeta estava condenado, e tal era conhecido. Cumpri então um cliché da destruição do mundo e sonhei com uma nave espacial, gigante, auto-sustentável e que replicava a bordo as condições atmosféricas e climáticas terrestes. A nave iria partir dentro de algum tempo, não sei quanto, era aquela distância temporal dos sonhos que não é mais do que a ausência de um sentido de urgência. Face a uma probabilidade elevada de não selecção, dou por mim envolvido numa experiência de eliminação de necessidades, promovida por um amigo - um daqueles dos sonhos cuja face não se agarra à nossa memória por mais que tentemos.
A experiência envolvia uma morte controlada. Três ou quatro pessoas voluntariamente deitadas em beliches na penumbra de um quarto manhoso, à espera que a fome e as drogas lhes retirassem a vida para poderem ser ressuscitados para um estado de super-heróis - deixaria de haver dor, fome, sede, sono. Recomendar-se-ia, de ora em diante o uso de água apenas para melhor funcionamento do organismo, não que a sua ausência causasse sofrimento mas porque convinha que todas as partes amovíveis estivessem convenientemente hidratadas e refrigeradas.
A momento incerto, tudo muda. Ao que me consigo lembrar o Poder tinha concluído às tantas que melhor do que acreditar em a) os habitantes da Arca teriam a capacidade de reproduzir a democracia enquanto sistema político vigente; e em b) a democracia iria contribuir para a sustentabilidade da vida humana em condições extremas; seria acreditar na importação para a Arca de um um grupo de decisores, mediadores de todos os conflitos e juízes de todos os delitos, incansáveis na pesquisa e aquisição de informação, totalmente imparciais e independentes. Onde obter esses modelos extra-humanos? Bom, de alguma maneira muito conveniente para a continuidade do sonho, o Poder chega até à tal experiência, ainda não concluída, e importam-nos para esse prédio, assim semelhante ao aeroporto do Porto mas muitas vezes maior, mais transparente. Sobra então a sensação de estar num piso muito alto.
Estavas lá tu. Cá em baixo, num balcão de check-in meio abandonado, alheada das filas que só lá estavam e se agitavam e soavam, que tanto podiam ser uma greve da Alitalia em Fiumicino a meio de Julho como o desespero de pais e filhos no Fim do mundo. Vi na tua cara que, apesar de teres contigo o trolley que levámos nas últimas férias, tinhas tomado a decisão de não acreditar nem tentar. Um pouco como fazemos habitualmente, nesse nosso tão nosso arrogante e snob hábito de 'nada dessas confusões de gentinha, onde se agite muito povo não pode ser bom'! E às tantas quis dizer-te que ia ficar tudo bem, que podíamos ir.
Lembrei-me então que a bordo eu não ia ter mais falta de ti e que muito provavelmente serias chamada para uma das quintas e que serias meramente Trabalho, já que para o que sabes fazer esta nova humanidade não terá utilidade durante os próximos tempos. E disse-te que esperasses, que tinha de ir tratar de uma coisa e que já voltava. E afastei-me e fingi não ver as tuas lágrimas e acordei do meu sonho, e não me lembro da sensação com a qual saí de ao pé de ti.
Agora na realidade,
Está a ser um dia lixado. Lembro-me repetidamente de um post que vi há muito tempo no Turno da Noite, algo sobre o que vamos guardando, longe dos olhares e dos sentidos, connosco, só para o caso de um dia vir a ser valiosa.
Muitas pessoas sobreviviam a uma primeira onda de destruição mas o planeta estava condenado, e tal era conhecido. Cumpri então um cliché da destruição do mundo e sonhei com uma nave espacial, gigante, auto-sustentável e que replicava a bordo as condições atmosféricas e climáticas terrestes. A nave iria partir dentro de algum tempo, não sei quanto, era aquela distância temporal dos sonhos que não é mais do que a ausência de um sentido de urgência. Face a uma probabilidade elevada de não selecção, dou por mim envolvido numa experiência de eliminação de necessidades, promovida por um amigo - um daqueles dos sonhos cuja face não se agarra à nossa memória por mais que tentemos.
A experiência envolvia uma morte controlada. Três ou quatro pessoas voluntariamente deitadas em beliches na penumbra de um quarto manhoso, à espera que a fome e as drogas lhes retirassem a vida para poderem ser ressuscitados para um estado de super-heróis - deixaria de haver dor, fome, sede, sono. Recomendar-se-ia, de ora em diante o uso de água apenas para melhor funcionamento do organismo, não que a sua ausência causasse sofrimento mas porque convinha que todas as partes amovíveis estivessem convenientemente hidratadas e refrigeradas.
A momento incerto, tudo muda. Ao que me consigo lembrar o Poder tinha concluído às tantas que melhor do que acreditar em a) os habitantes da Arca teriam a capacidade de reproduzir a democracia enquanto sistema político vigente; e em b) a democracia iria contribuir para a sustentabilidade da vida humana em condições extremas; seria acreditar na importação para a Arca de um um grupo de decisores, mediadores de todos os conflitos e juízes de todos os delitos, incansáveis na pesquisa e aquisição de informação, totalmente imparciais e independentes. Onde obter esses modelos extra-humanos? Bom, de alguma maneira muito conveniente para a continuidade do sonho, o Poder chega até à tal experiência, ainda não concluída, e importam-nos para esse prédio, assim semelhante ao aeroporto do Porto mas muitas vezes maior, mais transparente. Sobra então a sensação de estar num piso muito alto.
Estavas lá tu. Cá em baixo, num balcão de check-in meio abandonado, alheada das filas que só lá estavam e se agitavam e soavam, que tanto podiam ser uma greve da Alitalia em Fiumicino a meio de Julho como o desespero de pais e filhos no Fim do mundo. Vi na tua cara que, apesar de teres contigo o trolley que levámos nas últimas férias, tinhas tomado a decisão de não acreditar nem tentar. Um pouco como fazemos habitualmente, nesse nosso tão nosso arrogante e snob hábito de 'nada dessas confusões de gentinha, onde se agite muito povo não pode ser bom'! E às tantas quis dizer-te que ia ficar tudo bem, que podíamos ir.
Lembrei-me então que a bordo eu não ia ter mais falta de ti e que muito provavelmente serias chamada para uma das quintas e que serias meramente Trabalho, já que para o que sabes fazer esta nova humanidade não terá utilidade durante os próximos tempos. E disse-te que esperasses, que tinha de ir tratar de uma coisa e que já voltava. E afastei-me e fingi não ver as tuas lágrimas e acordei do meu sonho, e não me lembro da sensação com a qual saí de ao pé de ti.
Agora na realidade,
Está a ser um dia lixado. Lembro-me repetidamente de um post que vi há muito tempo no Turno da Noite, algo sobre o que vamos guardando, longe dos olhares e dos sentidos, connosco, só para o caso de um dia vir a ser valiosa.
2 Comments:
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