Sunday, March 26, 2006

Dear darling glittering J.,

Isn’t reality something? if I really wanted I, myself, could believe in all the reality that I just told you, and I guess that many people would read what I just wrote and, if it was better written and if they had the right preparation or were predisposed to, they would believe it, they would frame my reality and they would believe the idea I was passing on in a completely definitive way. Media is even better than writing, as by using sound and image rhythms you can provoke the states of the mind, tune up the senses and induce the viewer to what you’ll show him later.

Documentary on someone’s awkward-different-from-all-the-rest reality is itself the product of someone’s appropriating that senseless reality through limited means which, even if it was journalism, must suffer from some kind of at least unconscious prejudice and judgement that frame up and allow the necessary comprehension to production. It’s good that nothing warrants that anyone else would look onto that in the same way as you, and it seems to me that this is in fact the core of documentary, as it would loose all interest if it wasn’t complex and multiple in all the possible interpretations/identifications that you allow through the decisions you took in order to reduce 10 hours of footing to 30 minutes of documentary.

Friday, March 24, 2006

Da conversa ao almoço

'... não se pode sustentar que a filosofia tenha tido um grande sucesso nas suas tentativas de dar respostas exactas às suas questões. Se perguntarmos a um matemático, um historiador, ou qualquer outro homem de saber, que corpo definido de verdades foi descoberto pela sua ciência, a sua resposta durará tanto tempo quanto quiserdes ouvir. Mas se colocardes a mesma questão a um filósofo, terá, se for franco, de confessar que o seu estudo não alcançou resultados positivos como os que foram alcançados pelas outras ciências. É verdade que isto é parcialmente explicado pelo facto de que assim que se torna possível um conhecimento definido acerca de qualquer assunto, este assunto deixa de ser chamado filosofia e torna-se uma ciência separada. A totalidade do estudo dos céus, que agora pertence à astronomia, estava outrora incluído na filosofia; a grande obra de Newton foi chamada «os princípios da filosofia natural». Similarmente, o estudo da mente humana, que fazia parte da filosofia, foi agora separado da filosofia e tornou-se a ciência da psicologia. Deste modo, a incerteza da filosofia é, em larga medida, mais aparente que real: aquelas questões que já são capazes de respostas exactas são colocadas nas ciências, enquanto apenas para as quais, no presente, nenhuma resposta exacta pode ser dada, subsistem para formar o resíduo a que se chama filosofia.'
Bertrand Russell, que continua algures por aí...


Meu caro, a descoberta deste texto sobre a minha secretária, entre as facturas várias e os cartões de bons restaurantes dos quais temo desfazer-me, sob a habitual camada de pó que açambarcou todas as coisas que eventualmente pretendo ler, deixa-me embalado pelo espírito do mundo. Que bom deve ser ter a capacidade de amplificar e ouvir a grande consciência humana que nos forma e nos envolve e nos muda.

Descobri-o com pressa, ia cagar e queria qualquer coisa para ler. Por favor não me confundas com essa malta que não é capaz de arrear sem uma visão ou uma única que lhe tire a ideia da dilatação do olho do cu - eu consigo cagar sempre que tenho vontade e nunca demora mais de 5 minutos, não gosto é de gastar o meu tempo com necessidades físicas básicas e sinto esta necessidade de aperfeiçoamento constante. Vou contar-te uma coisa - a mim também me deram cabo da minha auto-confiança, o meu único problema é descobrir quem foi, se professores, se coleguinhas em idadezinhas cruéis, se os meus pais, se as condições económicas ou sociais familiares. Não faço puto de ideia, mas na verdade não interessa, interessa é recuperá-la, destilá-la do meu quotidiano, obrigar-me a viver mais para ganhar um aperto de mão forte. Quero agradecer-te pelo que tens feito.

Sunday, March 19, 2006

A luta




Isto sim, naturezas mortas.

Recomendável

Sítio do Cefalópode
'Só para cidadãos do mundo'

Largo do Contador-Mor 4B (ao Castelo)
22-02 hr

www.cefalopode.com

Gostei dos Les Éléphants Terribles.

Angústia

Se na rua alguém se aproxima de ti com um ar bonacheirão e simpático, interpela como quem vai perguntar uma direcção ou as horas e, perante os teus olhos, se transforma na vergonha e na humilhação de um avô de 58 anos despedido após 30 anos de trabalho num departamento jurídico que na verdade não te pede mais nada a não ser a tua compreensão através de um discurso balbuciado e sem nexo

... sou um analfabeto... ...disseram-me que não tenho competências... ...vocês são jovens... ...ouçam-me... ...desculpem incomodar... ...eu tive tudo...

então isso, isso que sentes, é angústia. a recordação da cena, tão recente, confunde-me - não sei se as lágrimas que vejo a correr, redondas e emparelhadas, quase cuspidas, não sei se são reais, não sei se foram minhas, sei apenas que as senti.

Lamento.

Pois, nós lamentamos, é o pró-forma.

Compreendo, mas não posso fazer mais nada.

Cenas Familiares

- no carro, à volta de um almoço de Domingo, dia do Pai, uma mariscada das antigas na Ericeira, 5 passageiros, três gerações, dois casais -

Nem sabes Avó, esta malta aqui da Ericeira são todos uns viciados em sexo! - mete o neto embalado pelo Casal Garcia, lembrando-se de uma conversa de Verão e de uma ex-namorada que lhe dava água pela barba

Em quê? - num tom chocado e malandreco

Em sexo.

Ah, querem lá ver. Isto agora é só dessas porcarias. Na televisão, agora à noite, até há um programa que só fala disso. Uma tipa que põe a audiência toda a enfiar coisas, ele é em bananas ele é em cenouras. No outro dia pôs-se a falar com um casal e aquilo era para lá uma confusão, ela não atingia não sei o quê, e ele só gostava quando lhe ela lhe punha um dedo no cu! - enquanto o carro quase se descontrola de engasgo e de tanto rir, acrescenta: Eu não vejo nada dessas porcarias, o teu avô é que gosta de ver o programa dessa tipa, ai, como é que ela se chama?

É a Marta, é a Martinha!

Friday, March 17, 2006

Espera

vamos continuando as pequenas tarefas da ordenança de vida enquanto a humidade se acumula nos entrestícios dos dedos das mãos, a memória salta ao eixo atrás de um muro não muito alto e aquela sensação de ter as palmas das mão coladas aos ombros nos toma integralmente, minuto após minuto em cadência ritmada e que acelera, devagar, muito devagar.

Tuesday, March 14, 2006

Desejo

que o Governo vá todo para a puta que o pariu!

Saturday, March 11, 2006

Horizonte

Meço cada impulso de cada centímetro quadrado da tua pele, cada suspiro, cada lamento, cada imprecação, cada abraço, cada dar de mãos, cada acção e reacção. Meço tudo o que consigo e provo a mim mesmo que não me amas o suficiente para o que vem a seguir. Sinto-o em mim próprio e também sei que assim o garanto.

Cenas Familiares

- conversa de família animada à volta do tópico dos roteiros da noite de tempos idos, da redescoberta de antros merdosos mas que, de alguma maneira, constituem a patine do divertimento noctívago de Lisboa; a mesa senta 6, a família e o namorado da mais velha -

No meu tempo ainda fui umas vezes ao Tóquio, o sítio era manhoso mas bebia-se para lá o melhor rum da noite. Ainda hei de lá voltar! - Pai

Ve lá se queres ir hoje, podemos ir todos! Ia ser giríssimo. - Mãe

Mas e o que é que fazem à Madalena? - pergunta a do meio

Vestimo-la de anã e vai conosco! - Mãe

Blogging

À conversa no bar, mais uma vez em confrontação com o próprio e a indecisão, pareceu-me descobrir de onde vem esta dependência do blog, este desejo de cultura bloguística. Perante as dúvidas do eu, e principalmente as do eu face aos outros, a leitura diária ajuda-me a descortinar os ritmos e conteúdos íntimos das vidas alheias, distantes ou próximas, permite-me a comparação anónima, sem inveja ou vergonha. A escrita, essa, já tem os seus benefícios por de mais elencados.

Monday, March 06, 2006

O gato, o pardo e o leopardo

Por falar em melancolia, e por ter visto tamanha obra recentemente, ocorre-me uma das suas imagens indeléveis, perenes - o próprio, na casa de banho surrealista, no baile, duas lágrimas após a valsa com a Cardinale, a absoluta melancolia masculina da juventude, da concretização, da virilidade, da inscrição, da não morte.

A palavra perene invoca uma outra cena, com um diálogo magnífico - no escritório com Chevalley, sobre o suposto desejo de esquecimento idiossincrático dos sicilianos e relativamente ao qual, entre os vários tragos finais do filme, torna-se praticamente clara a projecção metonímica da personagem. Através do conhecimento de que se trata de um acto menos altruísta e desinteressado do que parece ao interlocutor, Visconti deixa-nos, à partida, na confusão entre a hipérbole do pretexto para a recusa, com uma dimensão de persuasão auto-infligida, e uma denúncia final do carácter humano do herói - em ambos os casos é brilhante, e a resposta, agora que penso, surge no final da cena, através da inaudibilidade para o interlocutor intra-cénico da frase '... continuaremos convencidos que somos o sal da terra'.

Uma dessas noites

Não me lembro do nome do bar, nem em que dia foi, mas sei quem me levou lá para ser supreendido. O H. tocou, reggae ao que parece mas na verdade não interessa, e tudo nele apagou a envolvente. Tipo luz muito forte? Não, mais como a perspectiva a 250 km horários, mais como uma fotografia de uma estrada ladeada de árvores com o obturador muito lento. De vez em quando lá se vislumbrava o percussionista mas os seus solos sabiam a saudade, a uma melancolia do que poderiam ter sido se acompanhados por aquele frenesim. O H. tem uma vida, pelo que dizem, banal para o depressiva, meio perdida meio auto-vitimizada; talvez seja verdade mas naquela noite o que eu vi foi o extremo oposto à condição estaminal, vi o que pode ser descobrir um dom e concretizá-lo, vi o que a minha inépcia não consegue descrever e o que a minha existência inveja. Daí a minha pergunta.

Friday, March 03, 2006

Do mesmo amigo


Há que ler, sem falta, José Carlos Fernandes.

De um amigo


As you walk up the paths of the Centaurs on Mount Pelion, you discover a calm city waiting for the first raindrops to fall.

Wednesday, March 01, 2006

A banda marcha?

como quem pergunta se a menina dança.

A Banda
de Chico Buarque

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

down thru the marching
de Charles Bukowsky

they came down thru the marching,
down thru St. Paul, St. Louis, Atlanta,
Memphis, New Orleans, they came
down thru the marching, thru
balloons and popcorn, past drugstores
and blondes and whirling cats,
they came down thru the marching
scaring the goats and the kids in
the fields, banging against the minds
of the sick in their hot beds, and
down in the cellar I got out the
colt. I ripped a hole in the screen
for better vision and when the legs
came walking by on top of my head,
I got a colonel, a major and 3 lieutenants
before the band stopped playing;
and now it's like a war, uniforms
everywhere, behind cars and brush,
and plang plang plang
my cellar is all fireworks, and I
fire back, the colt as hot as a
baked potato, I fire back and sing
sing, "Mine eyes have seen the glory
of the coming of the Lord; He is
tramping out the vintage ... "